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Sobre a minha "nova" identidade francesa

Eu comecei esse blog como uma ideia de "diário", onde eu me sinta segura para falar sobre meus processos e experiências de morar fora do país que nasci, vivi e criei minha identidade.


Antes de tudo deixa eu explicar o que é a definição de identidade na psicologia:

"A noção de identidade refere-se ao conjunto de elementos - biológicos, psicológicos, sociais etc. - próprios de uma pessoa e à representação que ela tem de si mesma. Estes dois aspectos estão em contínua interação e se modificam permanentemente. A identidade, portanto, não é um estado fixo, mas se constitui em um processo dinâmico e mutável que ocorre ao longo da vida dos sujeitos, a partir de suas vivências, envolvendo comportamentos cognitivos, materiais e atos de investimento emocional, tendo em vista a satisfação de suas necessidades e desejos." (Livro Temas Básicos em Psicologia Ambiental Por Sylvia Cavalcante, Gleice A. Elali)


Eu nasci e criei minha identidade no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, cidade de calor, praia, natureza e muitas muitas amizades e 24 anos depois me mudei para São Paulo, e mesmo sendo no mesmo país, me vi em uma cultura completamente diferente da minha e assim conheci uma outra Marcella, onde os ciclos de amizade e a vida que era mais leve, tornou-se algo mais focado em trabalho e evolução financeira. Isso por um tempo me destruiu. Com o passar dos anos me adaptei a minha nova realidade e assim consegui viver bem em conjunto com o que eu acreditava que deveria ser e com o que o mundo me mostrava. Aprendi a viver em sintonia com minhas mudanças e a partir daí desenvolvi minha nova identidade, na qual eu acreditava que "pronto, eu amadureci e é isso que sou". Mas como vimos anteriormente, identidade é algo mutável e mais uma vez estou quebrando a cara (com um pouco mais de consciência talvez).

Atualmente estou morando em Paris na França e me vejo novamente em uma nova construção de identidade, dessa vez lidando de maneira um pouco mais leve do que a minha mudança do RJ para SP, porém não menos difícil. Temos uma ideia de "pelo menos tá na Europa", e de alguma forma esse bordão até me ajuda, mas a realidade é outra. Não que eu esteja arrependida de vir, muito pelo o contrário, não quero voltar a morar no Brasil (se quiserem posso escrever depois sobre os motivos), mas sinto que aqui, de alguma maneira, eu tenho que lidar com essa criação da minha "nova" identidade de maneira mais infantil (ou será muito mais madura? Ou leve?). Eu sinto que não tenho espaço para me sentir com raiva, ou triste, ou depressiva, pois eu ainda não falo francês (vim pra cá sabendo falar inglês e estou estudando francês ainda), eu preciso sempre lidar com tudo sempre com um sorriso no rosto, pois preciso fazer as pessoas me entender e de alguma maneira me aceitar (claro que nos meus limites), afinal, eu sou estrangeira e não falo a língua deles, eu tenho que ser agradável da maneira que posso e isso tem sido ótimo pra mim, parece estranho, né? Mas tem sido bom sim e me sinto segura de falar sobre isso, pois tem sido meu principal assunto na terapia, então sei que não estou em negação hahahaha

Na tatuagem, me vi na mesma situação de "aqui ninguém me conhece", no Brasil eu fazia somente os meus desenhos pois havia construído um nome junto às minhas criações e era por isso que eu era procurada, agora aqui? Todo dia tenho feito tatuagens que eu não fazia há mais de 7-8 anos. Todo dia um 7x1 diferente, mas feliz, pois sei que novamente estou construindo meu nome da maneira que posso. Mexe com o ego sim, mas sabe de uma coisa? Eu sou grata por passar por isso, por mais difícil que seja, pois de alguma maneira isso me remete ao meu mais extrovertido lado, onde eu vejo tudo com os olhos da construção e de novamente uma descoberta, como se eu nunca tivesse passado por isso antes.

Eu tenho acessado uma Marcella que eu não via há anos, pois com a construção de uma identidade profissional e confortável no Brasil, acabou caindo na rotina e no ego inflado.

Então to aqui pra falar sobre as dificuldades, pois nem tudo são flores, mas ao mesmo tempo (justamente por estar passando por essas dificuldades) eu tenho reafirmado a minha identidade lá de antes, de antes me preocupar tanto com a vida adulta. Não que eu não me preocupe mais, claro que me preocupo, mas a vida é muito mais do que eu estava vivendo

Essa não é a primeira vez que tento morar fora, já tentei alguns anos atrás ir para os EUA, mas acredito que eu não tinha maturidade suficiente para lidar com as minhas questões do ego, do trabalho, de aceitação e principalmente da minha identidade, acabei por voltar pro Brasil. Hoje, por mais difícil que esteja sendo, eu sinto que consigo entender e aproveitar esse processo e não tenho vontade de voltar, pois de alguma maneira, eu sentia que já não fazia parte de mim e esse foi exatamente o mesmo sentimento que me fez mudar do RJ para SP, eu sentia que criei algo "grande"o suficiente pra mim e já não cabia mais naquela realidade.

A identidade é mutável, e pra mim, de alguma maneira é também acumulável, chega uma hora que preciso expandir e dessa vez minha expansão teve que sair do país. Pode ser que um dia eu volte a morar (pretendo voltar todo ano pra visitar), mas não sei. Não sei se quero virar nômade ou se quero novamente estar segura como já estive. Nesse momento a única coisa que sei é que quero novas descobertas e novamente falo, não está sendo fácil, nem um pouco, mas tem sido gratificante passar por cada dia, por cada descoberta de quem eu sou.


Estive lendo esses dias um livro que meu antigo professor de psicologia social me deu de presente em uma sessão de tattoo, o livro conta a história de Severina e é uma tese de mestrando sobre identidade. Algumas frases me marcaram muito tal qual: "só se é alguém através das relações sociais" (pg 90, Livro: A Estória...) e posso dizer com toda certeza que esse meu processo aqui em Paris está sendo de alguma forma mais leve devido às pessoas que estão cruzando meu caminho. Estou aprendendo a me abrir pra pedir ajuda e o mais importante: estou me tornando protagonista de minha própria história como antes nunca fui.

Zero controle sob a vida ou sobre o que está por vir, mas tenho tido cada vez mais empatia e, principalmente, mais respeito pela minha pessoa e pelos meu processos. Tenho um foco e o que quer que me tire disso, não vale a pena manter; sejam essas relações humanas ou apenas meu ego ferido. E como fazer pra me descartar disso? Reafirmando a cada dia minha identidade.


Logo eu falo mais sobre tudo que vem acontecendo, esse é só o começo...


 
 
 

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